Estava mesmo esperando 2013 terminar para comunicar ao mundo que morri. Fui morrendo aos poucos. Não foi morte rápida e fulminante, mas também não foi agonizante. Foi morte lenta, dia a dia, foi morte tranquila, plácida. Fui entendendo que estava morrendo e aceitei. Deixei tomar conta daquela que fui... também não tive muita escolha, como em outra morte qualquer. Simplesmente aconteceu.
Os primeiros sintomas vieram em abril de 2012, e percebi mesmo foi em maio do mesmo ano. Um enjoo, um enfado. Depois passou e melhorou. Me senti mais bonita, e todo mundo percebeu. A barriga foi crescendo, demarcando o território.
Comecinho de 2013, bem no dia 4 de janeiro, o sol nem havia espreguiçado seu primeiro raio do dia, foi aquele turbilhão. Era 1:30h da madruga. São Paulo em silêncio. Ruas escuras, vazias, quase nem cruzamos com os carros nas outroras congestionadas ruas. Mas eu estava ali, consciente e lúcida. Não sentia dor. Uma certa ansiedade e um pouco de medo do desconhecido, afinal, ninguém sabe o que tem do outro lado antes de cruzar a fronteira....
Hora: 5:48h. Dia: 04. Mês: Janeiro. Ano: 2013. Essa é a hora oficial do óbito daquela que um dia foi simplesmente Estela. Era filha, era irmã, era esposa, era amiga. A partir daquele momento passou dessa para uma melhor. E passou a ser mãe. Mãe do Arthur.
Não teve atestado de óbito. Não teve funeral nem enterro oficial. Ninguém chorou a morte. Ela aconteceu somente aqui, dentro do meu peito. Tanto que quase ninguém percebeu que Estela se foi.
Parece um pouco mórbido e um tanto estranho esse sentimento e comparação com a morte mas é exatamente assim que aconteceu comigo. Tudo aquilo que um dia fui acabou ali, com o nascimento do meu filho. As baladas não me fazem falta, foi um tempo que passou e foi enterrado lá atrás com aquela Estela. Não tenho saudade. Hoje vivo pro Arthur. Aos poucos fui retomando a vida, mas agora diferente. Aprendi demais e estou aprendendo a cada dia. Todas aquelas teorias e conceitos ficaram nos livros, porque quando precisa de alguém para fazer par com você, a dança é diferente. Os dois tem que entrar no mesmo ritmo, tem que se conhecer, olho no olho, pele com pele, e ai as coisas vão acontecendo, vão fluindo e a dança vai ficando solta, bonita. Nenhum par é igual ao outro.
Então é isso. Tenho 1 ano de vida. De vida como mãe, porque nunca mais vou deixar de ser, haja o que houver. Uma nova vida começou em 2013. Que venha 2014 com novos desafios e nova aprendizagem.