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sexta-feira, 24 de outubro de 2014

É da Nossa Conta - Trabalho Infantil

Para quem ainda não sabe, sou professora de ensino fundamental e médio desde 2006, concursada pelo Estado de São Paulo, e leciono em escolas de "risco" dede então. Após a maternidade alguns assuntos se aproximaram ainda mais, emocionalmente falando, e eu não poderia deixar de manifestar algumas questões a respeito dessa Campanha da Fundação Telefônica, em parceria com a Unicef e a OIT

Hoje vejo Arthur cercado de cuidados a carinho, mas percebo o quanto isso foge da realidade de uma grande parcela das crianças brasileiras. Muitas, em lares desfeitos pelas drogas e crime, muitas rejeitadas por quem deveria apoia-las. Estão expostas as armadilhas da vida moderna e do caminho mais fácil (fácil como modo de dizer).

As leis brasileiras regulam que toda criança, agora a partir de 4 anos de idade, estejam matriculadas, garantindo portanto seu acesso a um lugar de aprendizagem, alimentação, convívio social, ou seja, inseridas na sociedade, e se assim estivessem, seguiriam o curso natural que sonhamos para todas as crianças, de serem adultos responsáveis e cidadãos.

A realidade se mostra muito menos colorida. Apesar da obrigatoriedade, papel nenhum consegue manter crianças em lugares seguros, tampouco em escolas. Muitos logo desistem da vida escolar por não verem uma luz no fim do túnel, em sua pequena jornada de vida, pois sentem a necessidade de terem dinheiro para comprar seu conforto ou mesmo ajudar as despesas básicas da família. 

Crianças sem pais, crianças sem mães, tantas vezes sob os cuidados de algum outro parente próximo ou amigo, a criança se sente uma intrusa em meio as cobranças por espaço e alimento. Quer algum item de consumo e sabe que não tem condições alguma, pois está em luta pela sobrevivência. Crianças cuidam de outras crianças enquanto os responsáveis saem muito cedo para o trabalho e retornam bem tarde, após sua jornada de deslocamentos e labuta. fadigados por essa condição. 

Olhar pela criança? Tarefa quase impossível para quem está lutando por sua própria sobrevivência, por um fôlego de vida.

Gente! É isso que vejo em meu trabalho todos os dias. Saio das reuniões de pais tantas vezes frustrada e desesperançada por saber que, por mais difícil de lidar com alguns casos que temos na escola, aos alunos conseguem ainda serem muito bons perto do que vivem fora da escola. A escola é para muitos, aquele refúgio onde são respeitados, apoiados, recebidos com carinho e alimento (minha escola é de tempo integral), por mais que conscientemente não reconheçam sua importância curricular, mas ao menos sentem-se protegidos.

Tantos de nossos jovens logo cedo decidem largar os estudos e se aventurar em trabalhos de rua como vender doces, limpar vidros, olhar carros, e outros trabalhos degradantes, por suas urgências de consumo. Todos estão consumindo o celular, a calça, o boné, a camiseta, de marcas famosas e caras. Esses jovens sentem a necessidade de estarem inseridos na sociedade, pois ainda guardam algum valor moral. Tantos criminosos desfilam seus carrões, joias, festas e roupas, ostentando uma vida de luxo e riqueza, uma vida tão distante da que esses pequenos vivem. Por muito pouco, ou quase nada, também não se envolvem nessa vida criminosa.

A única esperança para essas crianças é a libertação que o estudo pode promover. É a utilização das políticas públicas em prol da educação e de um ensino de qualidade, onde a escola seja cada vez mais um lugar onde eles queiram estar. Mais que um convívio social ou um prato de comida, um lugar de onde crianças e jovens percebam ser a ponte para um mundo de infinitas possibilidades. E que o trabalho (em termos de responsabilidade) da criança é o estudo.

A valorização da escola, dos ambientes de estudo, dos profissionais da educação se faz urgente em meio a uma sociedade que não consegue enxergar o drama e as necessidades reais das crianças brasileiras. Ao contribuir com o trabalho infantil, mesmo comprando uma bala no farol, dando uma moeda ao guardador de carros, é reforçar para essas crianças que aquele trabalho será compensado, quando o correto é orientá-lo, mesmo que talvez em vão, a retornar a escola e aos estudos, e em seu tempo livre, ler um livro, uma revista e aproveitar para brincar.

Acho que esse post saiu como um desabafo. Acredito que por não ter eu a resposta para esse problema, que ultrapassa os muros da minha escola, só pude dizer de dentro do problema o quão grave e próximo ele é. Está em todos os cantos, esquinas, apesar da Campanha de 2014 dar atenção especial à região Nordeste e ao semiárido brasileiro. O problema está aqui, agora.

Cabe a nós uma reflexão e pensarmos como sociedade a solução desse problema, a partir da educação.

Lugar de criança é na escola, e a escola tem que ser atrativa.


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É da Nossa Conta - Trabalho Infantil

Para quem ainda não sabe, sou professora de ensino fundamental e médio desde 2006, concursada pelo Estado de São Paulo, e leciono em escolas de "risco" dede então. Após a maternidade alguns assuntos se aproximaram ainda mais, emocionalmente falando, e eu não poderia deixar de manifestar algumas questões a respeito dessa Campanha da Fundação Telefônica, em parceria com a Unicef e a OIT

Hoje vejo Arthur cercado de cuidados a carinho, mas percebo o quanto isso foge da realidade de uma grande parcela das crianças brasileiras. Muitas, em lares desfeitos pelas drogas e crime, muitas rejeitadas por quem deveria apoia-las. Estão expostas as armadilhas da vida moderna e do caminho mais fácil (fácil como modo de dizer).

As leis brasileiras regulam que toda criança, agora a partir de 4 anos de idade, estejam matriculadas, garantindo portanto seu acesso a um lugar de aprendizagem, alimentação, convívio social, ou seja, inseridas na sociedade, e se assim estivessem, seguiriam o curso natural que sonhamos para todas as crianças, de serem adultos responsáveis e cidadãos.

A realidade se mostra muito menos colorida. Apesar da obrigatoriedade, papel nenhum consegue manter crianças em lugares seguros, tampouco em escolas. Muitos logo desistem da vida escolar por não verem uma luz no fim do túnel, em sua pequena jornada de vida, pois sentem a necessidade de terem dinheiro para comprar seu conforto ou mesmo ajudar as despesas básicas da família. 

Crianças sem pais, crianças sem mães, tantas vezes sob os cuidados de algum outro parente próximo ou amigo, a criança se sente uma intrusa em meio as cobranças por espaço e alimento. Quer algum item de consumo e sabe que não tem condições alguma, pois está em luta pela sobrevivência. Crianças cuidam de outras crianças enquanto os responsáveis saem muito cedo para o trabalho e retornam bem tarde, após sua jornada de deslocamentos e labuta. fadigados por essa condição. 

Olhar pela criança? Tarefa quase impossível para quem está lutando por sua própria sobrevivência, por um fôlego de vida.

Gente! É isso que vejo em meu trabalho todos os dias. Saio das reuniões de pais tantas vezes frustrada e desesperançada por saber que, por mais difícil de lidar com alguns casos que temos na escola, aos alunos conseguem ainda serem muito bons perto do que vivem fora da escola. A escola é para muitos, aquele refúgio onde são respeitados, apoiados, recebidos com carinho e alimento (minha escola é de tempo integral), por mais que conscientemente não reconheçam sua importância curricular, mas ao menos sentem-se protegidos.

Tantos de nossos jovens logo cedo decidem largar os estudos e se aventurar em trabalhos de rua como vender doces, limpar vidros, olhar carros, e outros trabalhos degradantes, por suas urgências de consumo. Todos estão consumindo o celular, a calça, o boné, a camiseta, de marcas famosas e caras. Esses jovens sentem a necessidade de estarem inseridos na sociedade, pois ainda guardam algum valor moral. Tantos criminosos desfilam seus carrões, joias, festas e roupas, ostentando uma vida de luxo e riqueza, uma vida tão distante da que esses pequenos vivem. Por muito pouco, ou quase nada, também não se envolvem nessa vida criminosa.

A única esperança para essas crianças é a libertação que o estudo pode promover. É a utilização das políticas públicas em prol da educação e de um ensino de qualidade, onde a escola seja cada vez mais um lugar onde eles queiram estar. Mais que um convívio social ou um prato de comida, um lugar de onde crianças e jovens percebam ser a ponte para um mundo de infinitas possibilidades. E que o trabalho (em termos de responsabilidade) da criança é o estudo.

A valorização da escola, dos ambientes de estudo, dos profissionais da educação se faz urgente em meio a uma sociedade que não consegue enxergar o drama e as necessidades reais das crianças brasileiras. Ao contribuir com o trabalho infantil, mesmo comprando uma bala no farol, dando uma moeda ao guardador de carros, é reforçar para essas crianças que aquele trabalho será compensado, quando o correto é orientá-lo, mesmo que talvez em vão, a retornar a escola e aos estudos, e em seu tempo livre, ler um livro, uma revista e aproveitar para brincar.

Acho que esse post saiu como um desabafo. Acredito que por não ter eu a resposta para esse problema, que ultrapassa os muros da minha escola, só pude dizer de dentro do problema o quão grave e próximo ele é. Está em todos os cantos, esquinas, apesar da Campanha de 2014 dar atenção especial à região Nordeste e ao semiárido brasileiro. O problema está aqui, agora.

Cabe a nós uma reflexão e pensarmos como sociedade a solução desse problema, a partir da educação.

Lugar de criança é na escola, e a escola tem que ser atrativa.


 
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